A segunda metade do século XX foi marcada pelo surgimento de governos ditatoriais pela América Latina. Os militares assumiam o poder através de um golpe de Estado e, devido ao período da Guerra Fria, justificavam suas políticas opressoras como estratégia para barrar os comunistas. Não à toa, os regimes ditatoriais foram apoiados pelos Estados Unidos, que viam na ditadura da extrema-direita uma forma de barrar o avanço do Comunismo pelas Américas.
Na Argentina aconteceram, no total, seis golpes de Estado durante o século XX (1930, 1943, 1955, 1962, 1966, 1976). Nos foram instaladas ditaduras provisórias, mas nos dois últimos os militares ficaram por mais tempo no poder, totalizando 25 anos de atrocidades e repressão. A Guerra Fria vivia seu auge e eram tempos de instabilidade política, o que levou à queda dos governos populistas e ascensão dos ditadores.
Juan Domingo Péron ocupou a Presidência entre 1946 e 1955 e, ao lado de Vargas, foi um dos maiores expoentes do populismo latino-americano. A ação dos militares, descontentes com a politica de concessões trabalhistas do presidente, levou ao golpe de 1956, no qual Péron foi deposto e exilado.
A partir daí, sucederam-se governos civis e militares, sem muita relevância para nossos estudos no Ensino Médio. O fato é que nenhum foi capaz de dar uma resposta aos crescentes anseios sociais. Em 1973, Péron foi eleito novamente, mas já não tinha uma base sólida de apoio nem entre os trabalhadores. A pressão esquerdizante do movimento operário era muito mais ampla do que era durante seu primeiro governo. Com sua morte, em 1974, sua esposa e Vice-Presidente Isabelita chegou ao poder.
Em um governo marcado pela crise econômica, pressões internacionais, perda do apoio dos trabalhadores e do empresariado e escândalos de corrupção, Isabelita ampliou o poder dos políticos conservadores do seu partido, o Justicialista. Revoltados, grupos da esquerda comandados por guerrilheiros passaram a lutar contra o governo, o que provocou uma desestabilização ainda maior em sua administração. A presidente recorreu à repressão com atentados, sequestros, torturas e assassinatos, assumindo postura violentamente repressora sobre a imprensa, as universidades e qualquer manifestação de oposição através de uma aliança com as Forças Armadas. Recusando-se a deixar o cargo em um cenário econômico catastrófico, Isabelita foi deposta pelo setor com o qual ela própria se aproximou: Forças Armadas.
O golpe militar recebeu reconhecimento fácil dos EUA e das outras ditaduras do continente, como as do Paraguai e a do Brasil. Em 29 de março de 1976, Jorge Videla era indicado para a Presidência da República, dando início ao regime militar.
A ditadura de Videla durou de 1976 a 1981, quando foi obrigado a renunciar. Seguiu a mesma cartilha das demais ditaduras, tendo como pontos centrais a repressão política e a abertura aos investimentos externos. O país se tornou um mero importador e a dívida externa argentina quadruplicou. No plano político, as violações aos direitos humanos foram frequentes e gravíssimas e justificadas por um plano chamado Proceso de Reorganización. A "Guerra Suja" foi o termo utilizado para definir a ação repressiva na ditadura argentina, deixando mais de 30 mil mortos.
Buscando reconstruir sua imagem internacional, o governo argentino se empenhou em organizar e vencer a Copa do Mundo de 1978. Exatamente como aconteceu no Brasil oito anos antes com o ditador Emílio Médici, Videla capitalizou a vitória na Copa do Mundo como uma vitória do regime, mesmo tendo ela sido alvo de recusas de participação (Johan Cruyff, por exemplo, vice-campeão na Copa de 1974) e de denúncias de manipulação de resultados.
Videla também atritou com o Chile na disputa pela soberania de três ilhas no Canal de Beagle, extremo sul do continente. Submetido à mediação inglesa, a questão teve uma decisão favorável ao Chile, o que provocou reação do governo argentino que só terminou em 1984, com a assinatura do Tratado de Paz e Amizade. Os protestos eram acompanhados pela Manifestação das Mães da Praça de Maio, tendo sido a questão do desaparecimentos uma das maiores e terríveis heranças deixadas pela ditadura na Argentina. Desgastado, Videla renunciou em 1981. Um de seus sucessores, Galtieri, mergulhou o país numa guerra insana contra a Inglaterra, na disputa pelas Ilhas Malvinas, que já estava há três séculos nas mãos dos ingleses. O final dessa história, todos já sabemos.
Galtieri renunciou em 1982, logo após a derrota. Raúl Alfonsín foi eleito Presidente da República e teve como missão a redemocratização. Seu governo sofreu ainda pressão dos militares, que tiveram que se contentar com leis como a do Ponto Final, que buscava cessar as investigações sobre os crimes de violação de diretos humanos durante a ditadura, e da Obediência Divina, que retirava dos setores subalternos qualquer responsabilidade sobre esses crimes. Mesmo assim, a Argentina foi o único país da América Latina que fez o dever de casa e julgou os crimes cometidos durante a ditadura. Em 1985, Videla foi julgado e condenado pelo assassinato de milhares de cidadãos durante seu governo. Atualmente continua preso, condenado em 2012 a cinquenta anos de prisão, considerado culpado pelos delitos de sequestro e roubo de identidade de menores durante seu governo.
Adorei, me ajudou demais!
ResponderExcluirQue bom que gostou! :D
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