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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

[Especial]: Peste Negra


“Da fome,
da peste,
e da guerra,
livra-nos, Senhor”
Oração Medieval

A Peste Negra foi um dois maiores desastres biológicos na história da humanidade e, nesta postagem, a intenção é informar e trazer curiosidades sobre a doença que devastou um terço da população europeia da época.

Pode-se destacar três tipos da doença:

  • Peste bubônica – a mais comum, que se caracterizava pela inflamação dos gânglios linfáticos do pescoço, virilhas e axilas, com formação de bubões pretos;
  • Pneumônica – atacava os pulmões;
  • Septicêmica – atacava o sangue, ocasionando hemorragias em diversas partes do corpo;

A bactéria Yersinia pestis é transmitida pelos seres humanos através da mordida de pulgas (por sua vez, alojadas em roedores). No século XIV a Europa vivia uma situação particular, com o desenvolvimento da economia mercantilista e das cidades portuárias. A formação das cidades ocorreu de forma muito rápida e precoce (vale lembrar que antes delas, as pessoas viviam nos chamados feudos), formando aglomerados de pessoas nas ruas estreitas, com muita gente pobre. Não havia coleta seletiva ou saneamento básico, os banhos eram raros e o lixo que cada um produzia era visível.



Roedores infectados viviam na região do Himalaia, domínio do povo mongol, e não eram conhecidos por viajar muito longe. A Europa, porém, foi infectada após contato mercantil com os Caffas, que viviam em ponto comercial estratégico na Península da Crimeia (palco dos últimos conflitos entre Ucrânia e Rússia).

Não se sabe ao certo como a peste chegou na Península da Crimeia. A teoria mais aceita é que o povo mongol, infectado pela peste, promoveu um ataque a Caffa. A cidade, como muitas na época, era protegida por grandes muros.

Os mongóis, ao serem derrotados na batalha também por causa da peste, teriam catapultado seus mortos para dentro da cidade, levando a doença que era contagiosa à população. Roedores infectados teriam sido trazidos pelos navios de Caffa em contato mercantil com a Europa.


Na Europa os boatos eram que o Oriente sofria de perseguição apocalíptica, chuvas de sapos e maldições, mas era só a Peste Negra mesmo. A Europa não estava em situação tão melhor assim, pois sofria com superlotação das cidades, eclosão da fome, mudanças em padrões climáticos, o Cisma do Ocidente que foi o estopim da crise da Igreja Católica (e ia além e se estendia à corrupção de papas e cardeais) e a iminente Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra. A eclosão da Peste Negra seria a coroação da crise.

Em 1347, o contato com os navios mercantis de Caffa trouxe uma surpresa a mais para os habitantes de grandes centros econômicos como Veneza e Sicília: Marinheiros mortos, já em fase de decomposição, pela Peste.

Alguns chegavam muito doentes com pequenos tumores que secretavam sangue e pus; urina, suor e saliva de aspecto escurecido, tosse, febre alta e dores fortíssimas. As mercadorias também traziam as pulgas indesejáveis que conseguiam passar despercebidas. Em pouco tempo a peste se espalhou pelas grandes cidades.


A Ciência da época, afundada na ignorância e na superstição, explicou que a Crise da Peste era prevista pelo alinhamento dos planetas Júpiter, Marte, Saturno; ou seja, a Ciência pouco fez e as grandes instituições da época, idem.

Alguns historiadores dizem que a velocidade com que a Peste se alastrou não condiz com nosso conhecimento atual sobre ela e sugerem que tenha ocorrido duas epidemias de uma só vez: A Peste e a de Antraz, ou de vírus como o Ebola.

A população surtou. Em 1348, a Peste já alastrava-se pela França, onde deu voltas em Marseille e Avignon, sede papal. Em Paris, 50% da população foi morta. Em Barcelona, foram assustadores 60%.


O Papa Clemente VI foi aconselhado a se manter entre duas fogueiras, acesas dia e noite. O Papa seguiu à risca os conselhos, mesmo no verão. Ele não foi infectado (a alta temperatura impedia a aproximação das pulgas). Além disso, a Igreja abandonou seu rebanho com recusas de bênçãos e batizados.

Os ricos, que tinham condições, fugiram para o campo na tentativa de afastar-se do que pensavam ser um castigo divino.

Os laços familiares também desapareceram: Famílias inteiras eram contaminadas e os que não se contaminaram tinha medo de cuidar dos doentes, que ficavam isolados e sem cuidados médicos.


Não havia lugar para enterrar tantos mortos e nem pessoas com tal disposição. Só as pessoas mais rústicas aceitavam o serviço e o faziam de forma igualmente rústica: Todos os dias carroças movidas a cavalos ou bois passavam nas cidades para recolher os mortos, que eram enterrados rapidamente, jogados em valas comuns um em cima do outro.

Em 1348, 300 sepulturas eram cavadas em Londres por dia. Em meio à loucura, percebia-se os sinais de desgaste na comunidade europeia. Surgiram os flagelantes uma seita fanática formada por católicos que buscavam por apelação aplacar a ira de Deus, por meio da automutilação e resistência ao sono e sexo. Eles então caminhavam pelas aldeias queimando prostitutas, judeus e pilhando igrejas.

Os flagelantes avançavam sobre pessoas inocentes seguindo o raciocínio de que quanto mais sentissem dor, mais livres do pecado estariam. As prostitutas foram vistas como símbolo do que havia de mais sujo e os judeus considerados culpados pela contaminação dos poços e do ar. O Papa Clemente VI tentou intervir em favor dos judeus, mas foi ignorado.


Em 1350, o Papa já tinha se retirado para sua casa de campo, como fez a maioria dos nobres. A morte tornara-se algo tão comum na Europa que velórios, quando feitos, recebiam pessoas descontraídas e quase risonhas. Em  Veneza, 60% da população pereceu. A Inglaterra perdeu 1/3 da população.

Por fim, a partir de 1351, a Peste passa a retroceder de forma natural, como acontece com as pragas em geral (Gripe Espanhola, por exemplo). Os flagelantes passaram a ser repreendidos pela população e se dispersaram.

É importante entender que a peste não extinguiu-se. Na verdade, continuou fazendo ciclos viciosos em algumas aldeias europeias até o fim do século XVIII e ainda existe na África e América, podendo ser controlada por antibióticos.


Apesar dos escândalos, havia algo de esperança nas pessoas que sobreviveram ou que conseguiram uma fuga, aos tropeços, das cidades. Elas acreditavam que algo bom viria após o apocalipse. Por mais que seja doloroso admitir, a Europa pós-Peste era uma Europa melhor para os mais pobres.

Agora com menos pessoas, a comida sobrava. A população mais pobre garante seu sustento, deixando os nobres sem qualquer mão-de-obra e originando mais um capítulo de crise. Os nobres, enlouquecidos, passam a pilhar aldeias em busca da mão-de-obra e o homem passa a ser o centro de tudo.

A Peste pode ser resumida como um apagão que aconteceu por toda a Europa. Um sinal que a lâmpada precisava ser trocada.

5 comentários:

  1. muito bom, conteúdo muito informativo e bem aprofundado.

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  2. kkk mt bom, mas acho q algumas partes foram copiadas de docs

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    1. Oi, Matheus, eu costumava usar diferentes fontes para fazer esses posts, e nesse post acredito que utilizei um documentário sobre Peste Negra sim. Eu não tenho qualquer pretensão de lucrar com este blog, e criei ele na época pensando apenas em ser um lugar em que alunos (como eu, à época) poderiam encontrar informações úteis de maneira concentrada. Na época, eu pensava que isso me dispensava de citar a fonte dos materiais, mas hoje eu faria diferente. De qualquer forma, acredito que tal documentário sobre a Peste Negra encontra-se disponível no Youtube. Um abraço :)

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